80 anos do PARNASO: Dissertação de mestrado resgata importante história da Unidade de Conservação

 Pesquisa de mestrado profissional identificou documentação importante da Era Vargas (1937-45) relacionados com a criação do PARNASO em 1939. Ana Beatriz de Menezes Ribeiro trabalhou em sua dissertação de mestrado a relação entre cientistas, políticos e técnicos na década de 1930 e como foi tratada a defesa da natureza na época. Ana procurou entender as razões da criação do parque e da escolha da Serra dos Órgãos. Sua dissertação foi defendida no dia 13 de maio na Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro com o título "Natureza e Política: A criação do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO) em 1939" e faz parte do Mestrado em Biodiversidade em Unidades de Conservação. "Buscamos, na documentação (fontes primária e secundária), afirmações de como a criação do PARNASO fez parte de uma das principais bandeiras do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC). Identificamos cientistas (biólogos), intelectuais e políticos, entre outras pessoas e suas concepções de proteção à natureza, envolvidos com projetos de criação de parques nacionais brasileiros e especificamente com a criação do PARNASO", explicou a pesquisadora.

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Ana ressaltou que desde o II Império em 1876 o engenheiro André Rebouças pensou na criação de parques nacionais para o Brasil. Muito anos depois, em 1931, o botânico e educador Alberto Sampaio defendeu a formação de parques de escoteiros nas principais cidades do país. Na mesma época Cerqueira Rodrigues do Touring Club propôs parques nacionais para seis regiões do Brasil. Em 1933, o educador Roquete Pinto volta a tratar do assunto na Revista Nacional de Educação. Na mesma década o engenheiro agrônomo, Armando José Vieira, filho do responsável pela Estada de Ferro que subia para Teresópolis, escreve uma sequencia de artigos a favor da proteção à natureza e visualiza o desenvolvimento de Teresópolis aliado à formação de uma área protegida. Finalmente, um grupo chamado pela pesquisadora como "Grupo dos Oito" é formado. Composto por Armando José Vieira, Edgar de Chagas Dória, pelos irmãos Arnaldo e Carlos Guinle, Hungria Machado, Franklin Sampaio, Egon Prates e o próprio Getúlio Vargas. Este grupo foi responsável pelo projeto e decreto de criação do PARNASO. O Estado Novo de Getúlio articulava um

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plano que ao mesmo tempo contemplava o parque e o desenvolvimento do turismo e do transporte. Projeto que contou com a doação de terras. O Decreto de Criação durou menos de um ano para ficar pronto. O PARNASO finalmente foi criado em 30 de novembro de 1939 e completa neste ano 80 anos. A criação do PARNASO está estreitamente relacionada com o contexto político e histórico do Brasil na década de 1930. "Ressalte-se ainda que não havia um consenso na década de 1930 sobre como preservar, até porque tal discussão não era nova nem no Brasil, nem no exterior. A noção de natureza como patrimônio nacional estava no cerne das disputas e na criação de parques nacionais; e a criação do PARNASO deve, necessariamente, ser analisada dentro desse quadro", destacou a orientadora da pesquisa, Dra Alda Heizer.

 

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Origem do Mosaico Central Fluminense

Ana Beatriz descobriu em sua pesquisa que também na década de 1930, Roquete Pinto como diretor do Museu Nacional e sócio da American Association of Museums, junto com seu amigo, o museólogo e cientista norte-americano, Lawrence Vail Coleman, pensaram na formação do chamado "Parque Nacional Guanabara-Serra dos Órgãos". Já tinham, portanto, uma visão de integração entre os ecossistemas marinhos e de montanha – a garantia de uma proteção dos manguezais até os campos de altitude, como presente na noção de mosaicos. A área protegida teria uma dimensão de 400 Km2 e seria o primeiro Parque Nacional do Brasil. Pensavam também na integração entre Conservação, Ciência e Turismo. A ideia incluía a instalação de galpões de observação e de laboratórios científicos com a intenção de receber pesquisadores do mundo. O fortalecimento da proteção ambiental e do PARNASO contou com a colaboração da importante feminista e cientista Bertha Lutz, formada em História Natural em Paris. Ela tinha casa em Teresópolis e acesso direto ao presidente Getúlio Vargas. Denunciou a devastação da Mata Atlântica e defendeu a ampliações de áreas preservadas. Segundo Ana Beatriz, o sentido de pertencimento também surgiu com Bertha quando ela afirmou: "o nosso da Serra dos Órgãos" ao se referir ao PARNASO. A dissertação da Ana Beatriz é sem dúvida uma grande presente para o aniversário de 80 anos do PARNASO e abre caminho para uma série de novas pesquisas.

 

Reportagem de Francisco Pontes de Miranda Ferreira – Apoio à Coordenação de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade

Fotos cedidas pela pesquisadora: foto 1 (Rugendas), foto 2 (Nicolau Fachinetti) e foto 3 (Marc Ferrez)